O que sou eu?
Pois é... estava aqui a pensar, à minha volta e vejo muitas pessoas dentro do meu círculo de conhecimentos, a maior parte com sentimentos positivos em relação a mim, mas pergunto-me... As pessoas gostarão de mim pelo que sou, ou pelo que lhes faço?
Sim, pergunto-me se gostarão de mim quando eu me abrir e disser tudo o que penso e o que sinto, quando eu for “eu próprio”, sem ter que pensar, sem ter que me esforçar?
E o que é o “Eu próprio? O que é que e eu sou? Serei o menino frágil e inseguro das memórias traumáticas e duras da adolescência? Ou o adulto forte, sabedor e nutridor?
Arrasto-me com estas dúvidas convicto que são um desafio do Universo para perceber melhor a essência do Ser, e nestas divagações acabo por encontrar um entroncamento de pensamento, um ponto nos meus processos em que me apercebo que algures tomei uma decisão sem reflexão, e que hoje me leva a esta questão.
Quem me diz ou garante que aquilo que fazemos é diferente do que somos? Se eu uso uma máscara durante toda a minha vida, qual é a minha verdadeira cara, aquela que eu imagino que está por baixo da máscara, ou a própria máscara?
Um dos perigos de pensar em termos de representação do eu, e representação social, como se fossem duas coisas estanques e diferentes, é este medo de sermos socialmente desmascarados, de que os outros descubram que a pessoa que sempre fui para eles não passa de uma máscara.
A reconciliação deste pensamento é complicada. A única maneira que encontro, é desafiar essa descontinuidade.
Talvez que aquilo que olhamos como sendo nós próprios não passe apenas de uma versão do que somos, porque somos bem mais do que aquilo que o nosso ego imagina que somos, somos também aquilo que os outros vêm em nós, somos as coisas que fazemos, somos as falhas, e os sucessos.
Aquilo que REALMENTE somos é uma mistura disto tudo, e nesse sentido a minha pergunta inicial perde sentido, porque não há separação entre ambos. Cada um deles é expressão em diversos contextos do que sou.
Apercebo-me que não existe Eu-Identidade, nem Eu-Acção, as coisas que faço são uma expressão de mim. eu não falo com as pessoas porque sou psicólogo, eu escolhi ser psicólogo porque falava com as pessoas e me indagava sobre o ser humano. Assim não tenho que escolher entre ser eu próprio, ou ser alguém que ajuda os outros. Sou ambos, e ambos sou eu.
Na minha privacidade, lembro-me do menino frágil, na relação com os outros, transparece o social e interactivo, nas reflexões o culto, nas festas o parvo, e assim por diante, mostrando que o meu ser é um mosaico de muitas e belas coisas... algumas mesmo parvas!
Henda, 19 de Agosto de 2017