Espiritualidade de Matriz Africana part1de3
Nelson “Henda” Vieira Lopes | psicólogo, terapeuta familiar e educador multicultural
Segundo o investigador Jacob Olupona, somente 10% da população africana pratica as religiões indígenas africanas. Isto representa uma fração do que costumava ser 100 anos antes. Vês o Rastafarianismo como forma de resistência da identidade Negra?
Dentro de RastafarI não chamamos Rastafarianismo, porque não vemos RastafarI como um sistema como o Comunismo, ou o Capitalismo, mas sim como uma vivência (Livity). O "I" em RastafarI toma o sentido de Identidade (Eu/I), e de Altíssimo (Alto/High).
Toda a filosofia RastafarI tem na sua génese uma resistência à imposição e hegemonia da cultura do opressor a todos os níveis, desde o espiritual e religioso, à organização social, ao simbolismo estético, à estrutura económica, à linguagem, à alimentação, à roupa, costumes, etc.
O "Repatriamento" (Físico ou Espiritual) tem grande importancia para o Movimento. Há toda uma intenção de fazer o "retrace" (retracejar) do percurso dos antepassados, para que se possa simbolica, mas transformadoramente voltar a África para de lá beber da essência da Africanidade e se ligar aos ancestrais, nutrindo assim as raízes do Diasporano.
Este Repatriamento, está patente na maior marca distintiva dos adeptos do Movimento RastafarI... os dreadlocks. Estes são cabelos juntos em mechas ou "guedelhas" que com o tempo se entrançam e cujos líderes da revolta dos Mau-Mau em 1952 no Kenya, usavam.
Vistos como guerreiros impressionantes e resistentes ao colonialismo foram a inspiração para esta resistência que o Movimento tem feito desde a sua germinação.
O corte com o opresso aproximou RastafarI de outras influências vítimas do imperialismo colonial como a grande comunidade de sadhus hindus "homens santos e ascetas", assim como passagens bíblicas que justificavam "o voto Nazareno".
"Não cortareis vosso cabelo dos lados da cabeça, nem aparareis as pontas da barba."Levítico 19:27 (King James Bible)
RastafarI olha para o seu cabelo como uma forma de afirmar a sua identidade Africana e a sua ligação espiritual.
Outro movimento é o da saída das cidades e estabelecimento nas montanhas da Jamaica de Pinnacle, a primeira comunidade RastafaI, e a tentativa de criar Zion na terra, um espaço onde os rastas poderiam estar, serem auto-sustentáveis e assim promover a sua independência e resistência económica.
Ao nível da espiritualidade, a ligação a H.I.M. Hailé Selassie I, imperador da Etiópia, unica resistente ao imperialismo colonial europeu, veio trazer uma ancestralidade espiritual, pois este é descendente de Rei Salomão, figura bíblica de grande importância.
Mas o processo continuaria a encontrar raízes em outros pontos da vasta história dos africanos, nomeadamente Kemet (Egipto) e Kush (Sudão).
Também no reggae se encontra nas suas letras, uma crítica social e um louvar de Jah. Para RastafarI, não existe reflexão sem ação, e por isso até a musica reflecte a resistência deste movimento.
Com o tempo a sua mensagem foi entendida e abraçada um pouco por todo o mundo, pois simboliza a luta entre oprimido e opressor,
"A people without the knowledge of their past history, origin and culture is like a tree without roots."
Marcus Mosiah Garvey